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Total apoio e irrestrita solidariedade às heroínas do MST e MCP

Por Marcos Sassatelli

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Na manhã do dia 13 do mês corrente cerca de 800 mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Movimento Camponês Popular (MCP) ocuparam a fazenda Agropastoril Dom Inácio, um dos latifúndios de João de “Deus”, em Anápolis – GO

As manifestantes chegaram ao local em 13 ônibus. Vieram de Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A Ocupação conta com mulheres de toda a Região Centro-Oeste, mas apenas famílias do Estado de Goiás ficarão no Acampamento. “Nosso objetivo – dizem as mulheres – é ficar por tempo indeterminado. O local já está tenso por conta da chegada da polícia, mas vamos resistir. Nossa luta é pela vida de todas as mulheres”.

As Trabalhadoras Sem Terra – verdadeiras heroínas – penduraram no pescoço placas com os nomes das vítimas e alegam que o território ocupado é fruto “do abuso, do estupro e da violência” do médium João Teixeira de Faria – conhecido como João de “Deus” – que está preso há quase três meses.

A Ação faz parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher (oito de março).

No dia 14, no Acampamento, denominado “Ocupação Marielle”, aconteceu, um Ato Público – com a presença de Movimentos Populares, Sindicatos, Partidos Políticos, Comitês ou Fóruns de defesa dos Direitos Humanos e outras Organizações Sociais Populares – em total apoio e irrestrita solidariedade às 800 mulheres do MST e do MCP, que denunciam as violências contra as mulheres e exigem que haja Reforma Agrária nas terras do médium abusador.

Eu, Frei Marcos (o autor destas linhas), Frei Carlinhos, Flávio e Edilene participamos do Ato em nome da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil.

O Ato lembrou também o aniversário de um ano do assassinato da vereadora Marielle Franco. A mística de abertura questionou: “quem mandou matar Marielle?”; e reafirmou: “seremos resistência nesse período que fere a vida das mulheres!”.

Segundo uma das coordenadoras do Ato, o Movimento cobra respeito e seguranças às mulheres. “A cada duas horas uma mulher é vítima de feminicídio e outras tantas são violentadas e agredidas no Brasil. Mais de 500 mulheres já denunciaram assédio e estupro praticado por João de ‘Deus’ e o Estado vem fazendo pouco caso. A prova disso é que ele teve Habeas Corpus concedido ontem (dia 12 deste mês). Nós exigimos respeito e vamos resistir para conseguir nossos direitos”.

A Ação pede ainda que as vítimas do médium sejam indenizadas. “Esse e outros locais, dos quais ele (João de ‘Deus’) é dono, são fruto da violência. Essas terras têm de ser destinadas às vítimas que já passaram por tanto sofrimento”.

Além disso, o Movimento manifesta também contra a paralisação da Reforma Agrária, pede que o assassinato da vereadora Marielle Franco seja elucidado e reforça a luta contra a Reforma (ou melhor: Antirreforma) da Previdência.

Trabalhadoras heroínas do MST e do MCP – como disse no Ato Público – a luta de vocês pela Terra – como também a luta de vocês pelo Trabalho e pelo Teto (moradia) – é um direito fundamental e sagrado. Faz parte dos três T de que fala o Papa Francisco: Terra, Trabalho e Teto (Moradia): direitos fundamentais de todo ser humano (e não somente de alguns).

Portanto, a luta de vocês é legítima, justa, ética e cristã. Todos os verdadeiros seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré estão do lado de vocês. A Igreja Católica (Comunidades, Paróquias e Dioceses) e as Igrejas Evangélicas que – por um grave pecado de omissão – não manifestam, em nome de sua consciência cidadã e do próprio Evangelho, seu apoio e sua solidariedade à luta de vocês, são Igrejas que traem Jesus de Nazaré na pessoa das trabalhadoras e trabalhadores e dos pobres em geral. São – podemos dizer – Igrejas de Judas e não Igrejas de Jesus de Nazaré.

Trabalhadoras heroínas, Deus está do lado de vocês, Deus luta com vocês! A vitória é de vocês!

As Liminares de reintegração de posse podem ser legais, mas são ilegítimas, injustas, antiéticas e anticristãs. Os juízes que expedem essas Liminares terão que prestar conta a Deus, que é o Juiz dos juízes.

Chega de feminicídios! Chega de violências contra as mulheres! Não à Antirreforma da Previdência! Reforma Agrária Popular já! Viva as Trabalhadoras Sem Terra do MST e do MCP unidas! Estamos com vocês!

Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

Goiânia, 20 de março de 2019

 

 

 

 

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